segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Texto de Marcel de Souza sobre a classificação do basquetebol para os JO 2012

ASSIM É, SE LHE PARECE
12/09/2011 14:06 h

 
A classificação do Brasil para as Olimpíadas de Londres em 2012, depois de dezesseis anos de ausência, me provoca um sentimento de recompensa e redenção.
 
Tais sensações me vêm de encontro a tudo que protestei, briguei e publiquei nesse período.
 
Lembro-me que, em Atlanta 1996, percebi uma profunda mudança no basquete mundial, pois aquele jogo a que estávamos acostumados, com arremessos “a la vontè” e pouco comprometimento defensivo, dava lugar a uma estratégia muito mais elaborada onde o poderio físico e defensivo superariam as diatribes ofensivas e o talento individual (mesmo os mais refinados) os quais teriam que abrir espaço a um corpo a corpo e a uma briga por posição cada vez mais “sangrentos”.
 
Desde 1996, portanto, ter a posse de bola seria o mesmo que ter a dominância territorial e desprezar esse domínio tático, através de contra-ataques e transições, sairia de moda e seria o juízo final para os que neles ainda insistissem.
 
Apesar de, a princípio, não saber explicar de forma clara meus objetivos apenas técnicos e partir com paus e pedras prá cima do pessoal que ainda insistia trilhar “o caminho certo” e que repetidamente só não dava certo “por causa dos sórdidos detalhes” (e peço desculpas a todos eles, mas eu estava “em missão”), meus argumentos eram válidos e, como disse, só agora vieram de encontro às minhas opiniões com essa honrosa classificação.
 
Quero de coração parabenizar o excelente treinador Ruben Magnano, todos os jogadores da nossa seleção e sua comissão técnica, além é claro dos atuais dirigentes que souberam escolher com clareza e decisão acertada o nosso futuro.
 
Gostaria também de lembrar que o grande mérito dessa conquista é de alguns jogadores desse fabuloso elenco, que viram ser esta a última oportunidade para passarem para história do basquete brasileiro como guerreiros vencedores e que por isso se submeteram a todos os sacrifícios necessários para uma conquista desse nível.
 
 
Foto: UOL
 
E observem que não foi fácil para eles, sempre acusados de serem os responsáveis pelos “detalhes” dos insucessos passados, afinal de contas eram eles que perdiam as bolas, erravam as cestas e as rotações defensivas dentro de sistemas de jogo inadequados aos seus talentos.
 
O discurso “explicatório” desses insucessos ia para lá, vinha para cá e acabava sempre nos jogadores que, insisto, são apenas o instrumento de execução de um sistema, o qual no caso era inapropriado para a competição.
 
Parabéns a eles pela disposição e desprendimento de lutarem até o fim por um ideal.
 
Parabéns ao treinador Magnano por levar nossos atletas perto do máximo que eles poderiam render e de conduzir com grande maestria não só os embates do pré-olímpico, mas também o ambiente em torno à seleção, fundamental para o bem estar e sucesso do time.
 
Desejo-lhe sucesso na preparação para nosso compromisso em Londres!
 
Quero finalmente lembrar aos dirigentes e membros da nossa seleção que o sucesso não tem reserva de mercado e que os jogadores heróis das batalhas de Mar del Plata serão sempre lembrados e honrados pelos seus feitos daqueles dias, mas que nas Olimpíadas ou em qualquer outra competição futura a nossa seleção tem o dever, a honra e a obrigação de ser defendida pelos seus melhores atletas, não importando o passado e sim o momento presente, pois é no presente que construiremos nosso brilhante futuro.
 
A percepção de um problema é, por vezes,  mais importante que o problema em si e posso lhes garantir que meu principal objetivo sempre foi indicar caminhos de mudanças para findar nosso exílio das grandes competições internacionais.
 
Fico feliz por ter lutado por um tipo de comprometimento técnico e tático que, dezesseis anos depois, vejo acontecer.
Marcel de Souza
marcel@databasket.com
Administração

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